Da mesma forma que as pessoas sempre vão precisar de energia elétrica, roupas e comida, elas também vão demandar água limpa e acesso a esgoto. Esse é, geralmente, o pensamento de quem busca empresas de saneamento e água para investir na bolsa.
Neste artigo, vamos explorar um pouco mais a fundo o setor de saneamento no Brasil, as características das empresas que o compõe, algumas de suas falhas e perspectivas para o futuro. Além disso, vamos explorar quais são as opções de companhias de água e saneamento que tem capital aberto e o investidor pode se tornar sócio.
Antes de começarmos, dê uma olhada em outros três artigos que preparamos sobre outros importantes e promissores setores!
SAIBA MAIS:
– Empresas do setor de saúde na bolsa: conheça as ações que você pode investir
– Ações de empresas de tecnologia: veja todas as opções do setor listadas na bolsa
– Ações de bancos: saiba quais são as instituições listadas na bolsa
A importância do saneamento básico
O acesso à água limpa e serviços de coleta de esgoto é uma das prioridades da Organização Mundial da Saúde (OMS), bem como é um dos direitos básicos de todos os cidadãos. Além disso, é um dos fatores fundamentais para considerarmos o quão desenvolvido é um país. Muitos brasileiros ainda adoecem por falta de saneamento básico no país e há muito espaço para melhoria e expansão ao acesso universal a esse serviço essencial.
A promoção de serviços de saneamento básico e água limpa estão diretamente ligados à:
- qualidade de vida;
- prevenção de doenças;
- produtividade econômica;
- limpeza urbana;
- proteção à natureza;
- preservação dos recursos hídricos;
- redução da mortalidade;
- expansão do turismo;
- valorização no mercado imobiliário;
- aumento na renda do trabalhador;
- entre outros.
Conforme dados do poder executivo e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com as metas propostas para o acesso universal ao saneamento básico – como veremos abaixo – estima-se uma redução de quase um bilhão e meio de reais com custeio anual de serviços de saúde. Em outras palavras, a cada R$ 1 investido no acesso às melhores condições de saneamento, economizam-se R$ 4 com a prevenção de doenças ocasionadas pelas condições precárias, segundo dados da OMS.
O setor de saneamento básico no Brasil
O Brasil é uma nação que tem muito a avançar quando o assunto é prover o acesso à água potável e esgoto a todos os habitantes. A meta de universalização prevê, até 2033, cobertura de 99% no fornecimento de água potável e 90% para a coleta e tratamento de esgoto. Os objetivos também devem englobar a não interrupção do fornecimento, redução de perdas e constantes melhorias nos processos de tratamento.
Conforme informações da Agência Senado e do Instituto Trata Brasil, do modo como funciona hoje, os municípios ficam a cargo de assinar contratos com empresas estatais para a prestação de serviços de água a esgoto. Os contratos permitem que as empresas atuem sem concorrência, o que foi eliminado pelo marco legal (ver abaixo), que agora é obrigatória a abertura de licitação para a empresas públicas e privadas para prestar o serviço.
Abaixo, observam-se alguns dados sobre o atual panorama do setor no Brasil:
Marco legal do saneamento básico
Em junho de 2020, foi aprovado no senado o PL 4.162/2019, também chamado de marco legal do saneamento básico no Brasil. De acordo com informações da Agência Senado, o texto
prorroga o prazo para o fim dos lixões, facilita a privatização de estatais do setor e extingue o modelo atual de contrato entre municípios e empresas estaduais de água e esgoto. Pelas regras em vigor, as companhias precisam obedecer a critérios de prestação e tarifação, mas podem atuar sem concorrência. O novo marco transforma os contratos em vigor em concessões com a empresa privada que vier a assumir a estatal. O texto também torna obrigatória a abertura de licitação, envolvendo empresas públicas e privadas.
Fonte: Agência Senado
O marco legal do saneamento foi sancionado pelo poder executivo ainda no mês de julho e já está valendo. Entre os resultados esperados com a medida, estima-se que 35 milhões de pessoas que não posssuem água tratada e 100 milhões sem acesso à coleta de esgoto possam sair dessa situação.
Portanto, o mercado aguarda também que novas empresas entrem neste setor, aumentando não só a concorrência, como também a qualidade e a universalização dos serviços.
Vale a pena investir em ações de água e saneamento?
O mercado já acompanha com atenção as ações de empresas de saneamento básico que podem se beneficiar do novo marco legal. O consenso dos analistas e investidores é que essa era uma demanda fundamental para tornar os investimentos no setor mais atrativos e vantajosos, bem como o andamento das demais reformas propostas pelo governo.
O espaço para a entrada de empresas privadas é um dos anseios, reduzindo, assim, a concentração do mercado pelas empresas públicas. Conforme matéria publicada no Estado de S. Paulo, aguarda-se um investimento entre R$ 500 bi e R$ 700 bi no setor e que o número de 94% das cidades atendidas por empresas estatais e 6% por empresas privadas sejam melhor equilibrados.
Por sua vez, as empresas já listadas na bolsa também tendem a se beneficiar do cenário com a modernização do serviço e de uma possível privatização de seus serviços. A demanda da privatização dos serviços é algo que os investidores também acompanham de perto. A Sabesp (SBSP3) e a Copasa (CSMG3) são quem estão melhor encaminhadas nesta seara. No entano, já sabemos a que velocidade andam as conversas sobre privatizar serviços públicos no Brasil, certo?
O estabelecimento de metas de qualidade e aumento da segurança jurídica também tendem a reduzir o risco de governança da presença do poder público metido nessas empresas, o que afasta alguns investidores mais rigorosos.
Importante dizer também que, neste setor, os contratos, assim como o de companhias elétricas, são para longos períodos. Ou seja, uma empresa assina um acordo para prestar décadas de serviços de saneamento a uma região.
Abaixo, um resumo dos principais dados fundamentelistas das empresas de saneamento que temos listadas na bolsa brasileira:
Empresas de saneamento básico e água na bolsa
Agora, vamos conhecer quais são empresas de saneamento listadas na bolsa e por que os investidores pensam nelas como ações para longo prazo. Apesar de não haver muitas opções em número, há boas escolhas para possibilitar uma oportunidade de aumentar a diversificação da carteira de investimentos.
1. Sanepar (SAPR3/SAPR4/SAPR11)
A Sanepar é uma empresa da década de 1960 que hoje fornece serviços de saneamento básico para 345 cidades do Paraná, Santa Catarina e outras quase 300 localidades de menor porte, conforme dados da própria companhia.
Como toda empresa pública, a composição acionária é um fator diferencial na análise fundamentalista. Hoje, conforme informa o RI da empresa, o Estado do Paraná detém 60% das ações com direito a voto na companhia. A existência de ações PN e Units não encorajam o sócio de longo prazo mais afeito às questões de governança. Cabe ao investidor a decisão se aceita ou não este risco.
Segundo informações do Status Invest (ver gráficos abaixo), registrou mais de R$ 1 bi de lucro líquido no exercício de 2019 e está, há pelo menos 10 anos, sem registrar prejuízo.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Sanepar
DRE de Sanepar
Cotação histórica de SAPR3 e SAPR4 vs Ibovespa
2. Sabesp (SBSP3)
As ações da Sabesp (SBSP3) estão as que mais chamam a atenção do mercado e aparecem em recomendações de carteira. Fundada em 1973, hoje fornece água, coleta e tratamento de esgoto a 375 municípios do Estado de São Paulo.
O RI da empresa informa que a companhia é responsável por algo em torno de 30% do investimento em saneamento nacional e planeja injetar R$ 20 bilhões até 2024 para ampliar os serviços tanto em disponibilidade quanto em segurança.
Conforme podemos observar nos gráficos do Status Invest, o lucro líquido em 2019 foi de R$ 3,367 bilhões e também não registra prejuízos recentes. Já nas questões de governança, é uma empresa do Novo Mercado e a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo detém 50% das ações.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Sabesp
DRE de Sabesp
Cotação histórica de SBSP3 vs Ibovespa
3. Casan (CASN3/CASN4)
A Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) é uma empresa em que 63% das ações votantes estão nas mãos do governo estadual e o free float é quase nulo. Nos gráficos de negociação do papel, percebe-se uma liquidez ínfima. Ou seja, é uma empresa que não quer sócios na bolsa.
Fundada em 1970, presta, de acordo com dados da companhia, serviços a mais de 2,7 milhões de pessoas (quase 40% do estado catarinense. Seu foco está nos serviços de gestão, operação e manutenção de sistemas de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Casan
DRE de Casan
Cotação histórica de CASN3 e CASN4 vs Ibovespa
4. Copasa (CSMG3)
Empresa de 1963, a Copasa tem capital aberto desde 2003 e ações listadas a desde 2006. Trata-se de uma das maiores empresas de saneamento do país, atendendo quase 12 milhões de pessoas e tem mais de 300 concessões para serviços de esgoto em que atende cerca de 8,2 milhões de indivíduos – informações do RI da empresa.
Na composição acionária, o governo do Estado de Minas Gerais é dono de 50% dos papeis. O lucro líquido foi de R$ 754 milhões em 2019 frente uma receita de maid de R$ 5 bilhões. O último prejuízo registrado foi no ano de 2015.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Copasa
DRE de Copasa
Cotação histórica de CSMG3 vs Ibovespa
Governança e privatizações: fatores muito importantes
Como alertado em artigos anteriores, a governança corporativa é um fator primordial na escolha empresas. No caso das empresas de saneamento e água na bolsa de valores o investidor deve ponderar bem em sua análise se aceita ou não o risco da participação do governo. O que isso representa na prática?
Com a participação do governo, a companhia fica sujeita a:
- entraves e jogos políticos no processo de privatização;
- ser cabide de empregos e negociação de cargos;
- ter pouca profissionalização da gestão;
- sofrer impactos diretos de possível corrupção no governo;
- presenciar o uso da empresa e seus recursos para manobras políticas;
- desvio de recursos;
- entre outras.
Uma vez que realizamos o estudo da companhia, vale analisar a real possibilidade de ela passar pelo processo de privatização, como foi a relação da empresa como governos anteriores, se houve casos de corrupção e desvios em passado recente, se observa os fatores de governança do segmento de listagem correspondente.
As empresas do Novo Mercado oferecem uma segurança maior no quesito governança, mas não é uma bala de prata ou um selo de incorruptível. A análise fundamentalista dessas ações para incluir na carteira deve ser cuidados.
Privatização da Sabesp (SBSP3)
A novela das privatizações no Brasil também atigem em cheio as empresas de água e saneamento. O mercado pousa sua atenção com mais afinco nas vendas da Sabesp e da Copasa. Quanto à primeira, aqui estão algumas das notícias mais recentes sobre o assunto:
- Exame | Enquanto não é vendida, Sabesp vai às compras
- InfoMoney | As alternativas para a Sabesp após o “balde de água fria” sobre a privatização – e o que esperar para as ações
- Money Times | Privatização da Sabesp pode alavancar preço da ação a R$ 98 e render R$ 35 bi ao governo
- Money Times | Sabesp: investidores vão deixar balanço de lado e seguir atentos à privatização, avaliam analistas
Privatização da Coapsa (CSMG3)
Já sobre a companhia mineira, as conversas sobre a venda da empresa parecem estar em ritmo lento com uma ligeira retomada, sobretudo após o ano de enfrentamento à pandemia e o mercado aguarda novas informações sobre esse processo. Eis o que se sabe até hoje:
- O Tempo | A pandemia da inércia
- Estado de Minas | Audiência Pública debate privatização da Copasa
- G1 | Estudos para analisar a viabilidade de privatização da Copasa são autorizados pelo governo de Minas Gerais
- O Tempo | Zema dá mais um passo para privatização da Copasa
Por que privatizar é bom para o mercado?
Para encerrar este tópico, recomendamos a leitura dos artigos abaixo que aponta por que o mercado considera positivo o movimento de venda de empresas estatais com vários exemplos e, por outro lado, alguns textos também que ponderam sobre vantagens e descantagens da privatização:
- Gazeta do Povo | Privatização: entenda por que privatizar é bom e quem ganha é você
- Superinteressante | Quais os prós e contras das privatizações?
- UOL | Empresa privatizada pode ser tão ruim quanto estatal, diz professor inglês
- O Globo | Miriam Leitão | Privatizar é bom ou ruim?
Em suma, observa-se que o mercado fica afoito pelas privatizações uma vez que espera que a desestatização permita às empresas um crescimento mais robusto, maior capacidade de investimento, crescimento dos lucros, menor chance de corrupção na empresa e aumento da competitividade e modernização do setor que atua.
Como analisar empresas de água e saneamento básico?
Por fim, como analisar uma empresa de saneamento e água para incluir na sua carteira? Além dos fatores óbvios (governança, lucros e crescimento), vale observar alguns outros que vão servir de checklist.
- Lucros constantes e crescentes;
- dívida controlada;
- geração de caixa;
- qualidade do serviço;
- projetos de modernização e crescimento;
- como está se posicionando frente ao novo marco legal do saneamento;
- se existem projetos de privatização e como eles estão avançando;
- quais contratos e concessões possuem e qual é a duração;
- possibilidade de renovação das concessões e contratos de prestação;
- influência de fatores climáticos (níveis das reservas, por exemplo) na prestação do serviço;
- impactos na natureza e que ações de sustentabilidade possui;
- entre outros.
Portanto, além da análise fundamentalista tradicional, ações de empresas que possuem forte presença pública devem passar por um crivo mais rigoroso, já que seu risco é elevado em relação a outras. Não é nada que impeça o investidor de comprar esses papéis para carregar para o longo prazo, mas deve pensar e aceitar os riscos que estão atrelados.