Com os recentes IPOs de Locaweb, Méliuz e Enjoei, a cada vez mais crescem as opções e o interesse dos investidores por ações de empresas de tecnologia na bolsa brasileira.
Claro que ainda são pouquíssimas opções de escolha, dado o tamanho e a relevância do mercado brasileiro. Algumas empresas nascidas aqui, de vários setores, optaram por fazer a abertura de capital no exterior – como a XP Inc, a PagSeguro, a Stone e a Afya Educacional –, por algumas dificuldades de fazer IPO no Brasil. De 2018 a 2019, foram 13 empresas que correram para lançar ações nas bolsas americanas.
Em outras palavras, espera-se que a B3 reduza as barreiras de entrada na bolsa para vermos mais e mais boas empresas de um setor tão promissor como o de tecnologia abrirem capital por aqui, como a empresa de software CI&T, que almeja lançar suas ações na bolsa brasileira e captar cerca de R$ 1 bilhão.
Uma das críticas que se faz à dificuldade de abrir capital na B3 é justamente o valor ambicionado no lançamento. Assim dizendo, praticamente não é possível sonhar em abrir capital e levantar valores “menores”. Tome, como exemplo alguns dos IPOs de 2019/2020 na bolsa de valores brasileira:
- C&A (CEAB3) – levantou R$ 814 milhões;
- Track & Field (TFCO4) – levantou R$ 523 milhões;
- Pague Menos (PGMN3) – levantou R$ 747 milhões;
- Moura Dubeux (MDNE3) – levantou R$ 1,25 bilhão;
- Mitre (MTRE3) – levantou R$ 1,8 bilhão;
- Grupo Soma (GSOM3) – levantou R$ 1,82 bilhão;
- Petz (PETZ3) – levantou R$ 3 bilhões;
- Grupo Mateus (GMAT3) – levantou quase R$ 4,5 bilhões.
Ou seja, se uma empresa não aspira ao menos meio bilhão de reais, fica de fora da bolsa mesmo. A exceção da regra foi o IPO da Priner que levantou cerca de R$ 174 milhões (menor volume desde 2013), abrindo espaço para mais empresas fazerem os chamados mini-IPOs.
Em outras palavras, aguardamos flexibilização das barreiras que mantém muitas empresas longe da abertura de capital no Brasil, sobretudo na área de tecnologia. Algumas companhias desse setor conseguiram lançar suas ações na bolsa. Vamos conhecê-las?
Como é o setor de tecnologia no Brasil?
Quando se pensa em setores promissores para o futuro, certamente o de tecnologia vem à mente como uma das primeiras lembranças. Isso pode ser atribuído à incessante transformação digital dos negócios, forte inserção da internet das coisas, a chegada do 5G e muitos outros fatores.
Essa crença também é justificada por números. O setor de TI, telecomunicação e comunicação já respondem por 7% do PIB nacional, com expectativa de chegar a 11% até 2022. Além disso, estima-se que a chegada do 5G pode somar mais R$ 1,2 trilhão ao PIB até 2035.
Em outras palavras, campo aberto para a expansão! Antes da pandemia, estimava-se que o mercado de tecnologia cresceria cerca de 5% em 2020. Muitos serviços impulsionam esta alta, sobretudo a forte demanda por segurança da informação, desenvolvimento de software, serviços na nuvem, aplicações mais modernas, desenvolvimento de aplicativos, dispositivos smart, DaaS (dispositivo como serviços) SaaS (software como serviço) e muitas outras.
Quando olhamos para o resto do mundo, não é diferente. Muitas das marcas mais valiosas do mundo, de acordo com levantamento da Forbes, já são da área de tecnologia. O valor de mercado da Apple sozinho já ultrapassa o PIB brasileiro.
Veja outro estudo abaixo feito pela Bloomberg. As quatro maiores empresas tech americanas (Google, Amazon, Microsoft e Apple) juntas são maiores que todo o mercado japonês.
Por que investir nas melhores ações do setor de tecnologia?
Acima de tudo, tantos números positivos deixam o investidor animado com as possibilidades e com as ações do setor de tecnologia, não é mesmo? Quem quer ficar de fora de um setor que registrou mais de 118% de crescimento em dez anos?
De forma contínua, mesmo durante a crise, as ações do setor têm se mostrado resilientes e com bom retorno. Perceba no levantamento abaixo como as ações têm se mantido acima do Ibovespa, de um ano para cá. Apenas a positivo ficou abaixo.
Legenda (cores das linhas):
- Preta mais grossa: Ibovespa
- Amarela: Locaweb
- Laranja: Totvs
- Roxa: Sinqia
- Rosa: Linx
- Verde: Positivo
Em se tratando da crise do novo coronavírus, pode-se constatar mais uma vez que, de acordo com levantamento do Valor Invest de agosto deste ano, que as empresas de tecnologia passam por forte valorização na crise.
Por fim, antes de encerrar este tópico, quando olhamos para um prazo de 5 anos, o resultado não se altera. Pelo contrário, ele fica ainda mais favorável às ações do setor de tecnologia. Ou seja, não dá para não pensar em não investir nesse setor, certo?
Quais são as ações de empresas de tecnologia listadas na bolsa?
Bom, agora que já passamos um pente fino nos principais números do setor, vamos conhecer as principais ações do setor de tecnologia de empresas disponíveis para o investidor na bolsa.
1. Totvs (TOTS3)
A Totvs é uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil; se não, a maior. Oferece produtos nas áreas de ERP, CRMs, E-commerce, Cloud, Inteligência Artificial, Consultoria, softwares e muito mais.
A empresa fez o IPO em 2006 e captou R$ 460 milhões de reais. Primeiramente, é uma empresa do Novo Mercado (bom indicador de governança) e altíssimo free float. No último trimestre de 2019, seu lucro registrou alta de mais de 100%, fechando o ano com mais de R$ 250 milhões positivos e com o patrimônio líquido superando os R$ 2 bilhões pela primeira vez. Pelos dados abaixo, vemos mais de 10 anos de lucros constantes e receitas crescentes nos últimos trimestres.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Totvs
Cotação histórica de TOTS3
2. Méliuz (CASH3)
A empresa mineira de cashback Méliuz fez o seu IPO em novembro deste ano. Ou seja, muito recente. Dessa forma, ainda há poucos dados para analisar sobre a empresa e o site de relações com investidores ainda sequer está disponível.
Em uma abertura de capital que ficou conhecida como a abertura do caminho para as start ups digitais, a Méliuz levantou R$ 662 milhões de reais. Como ainda é algo muito novo, vale a pena esperar para ter mais dados sobre a companhia para estudá-la.
Trata-se de uma empresa de soluções digitais de serviços financeiros, cupons de desconto e cashback. Hoje, tem 10 milhões de contas ativas na sua base.
➡️ Site de Relações com Investidores da Méliuz
Cotação histórica de CASH3
3. Enjoei (ENJU3)
A Enjoei – plataforma de brechó – levantou R$ 1,13 bilhão de reais no recente IPO também de novembro de 2020.
A empresa visa destinar os valores a expansão da marca e base de usuários; investimentos em políticas comerciais e melhoria das vendas; expandir o time de desenvolvimento do produto e soluções fintechs.
Fundada em 2009, foi transformada em site e, em seguida, em um marketplace para venda de diversos produtos.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Enjoei
➡️ Prospecto do IPO da Enjjoei
Cotação histórica de ENJU3
4. Locaweb (LWSA3)
A Locaweb é uma empresa de serviços de hospedagem, cloud e servidores, criação de sites e lojas virtuais, e-mail e marketing digital.O foco da empresa, fundada em 1997, está no público empreendedor.
De acordo dados da companhia, possuem hoje mais de 285 mil clientes, 340 mil sites hospedados, 5 milhões de caixas postais e 16 mil devs parceiros.
A ação estreou na bolsa em fevereiro de 2020, captando R$ 1,4 bilhão. Desde então, registra uma subida em disparada, como percebemos nos gráficos anteriores.
É uma empresa listada já no Novo Mercado e com excelente free float. Como o IPO também é recente, ainda não há muitos dados históricos sobre a empresa. Seu lucro líquido em 2019 foi de R$ 18 milhões de reais, frente os R$ 10 milhões de 2018, conforme dados do Status Invest.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Locaweb
Cotação histórica de LWSA3
5. Positivo (POSI3)
A Positivo Tecnologia é uma fabricante de computadores, smartphones e tablets criada em 1989. É líder nos segmentos educacional e gráfico-editorial. Em 2019, respondeu por 14,3% número total de computadores vendidos no mercado brasileiro, de acordo com a IDC e dados do RI da empresa.
Empresa do Novo Mercado, tem números bem discretos e pouco atrativos. Dos quase R$ 2 bilhões de receita líquida em 2019, obteve R$ 20 milhões de lucros, sem mencionar os prejuízos recentes em 2015, 2017 e 2018.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Positivo
Cotação histórica de POSI3
6. Sinqia (SQIA3)
A Sinqia, fundada em 1996, é a principal desenvolvedora de tecnologia para o sistema financeiro do Brasil. Foi eleita uma das 100 maiores fintechs do mundo, segundo o IDC. Atualmente, presta serviços em quatro verticais de software e duas de serviços para bancos, fundos, previdência, consórcios etc.
Suas ações estão listadas no Novo Mercado e tem quase 70% de free float. Conforme dados do Status invest, registrou prejuízo de R$ 2 milhões em 2019. Recentemente, fez uma oferta subsequente de ações (follow-on) em que levantou R$ 326 milhões.
A empresa foca atualmente em diversas aquisições de outras companhias do mercado, aumentando, assim, as suas receitas. Duas das mais recentes foram as aquisições da Itaú Soluções Previdenciárias por R$ 82 milhões e da Tree Solutions por R$ 13 milhões.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Sinqia
Cotação histórica de SQIA3
7. Valid Certificadora Digital (VLID3)
A Valid é uma empresa que vende serviços de certificação digital de segurança para pessoas, objetos e transações. Além disso, possui soluções de identificação, IoT & tracking e meios de pagamento. O forte da companhia está mesmo nos certificados digitais, muito utilizados nos dias de hoje.
Seu lucro líquido em 2019 foi de R$ 53 milhões, segundo dados do Status Invest.A Valid é uma das empresas que visam a reabertura econômica pós-pandemia como fator positivo para retornar ao crescimento da lucratividade, já que seu lucro líquido não supera os R$ 100 milhões desde 2015.
Em conclusão, um dos riscos para a empresa é a recente alteração na validade da carteira nacional de habilitação (CNH). Boa parte da receita da empresa vem da emissão das carteiras de identidade e motorista pela Valid e estima-se que sofrerá uma queda em até R$ 130 milhões por ano com essa mudança.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Valid
Cotação histórica de VLID3
8. Neogrid (NGRD3)
A empresa de tecnologia Neogrid foi a última companhia a realizar IPO em 2020. Em sua estreia, no dia 17 de dezembro, captou cerca de R$ 486,5 milhões.
A Neogrid é uma empresa de softwares voltada para todas as fases da cadeia de suprimentos da indústria, varejo, por segmento ou necessidade. Em seus números mais recentes, registrou, no consolidado, um lucro de R$ 8,579 milhões de janeiro a setembro deste ano, o que representa um crescimento de 62,4% frente o mesmo período de 2019.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Neogrid
Cotação histórica de NGRD3
9. Intelbras (INTB3)
A Intelbras realizou o seu IPO em fevereiro de 2021, levantando a quantia de R$ 1,3 bilhão. Segundo informações do prospecto, o dinheiro movimentado visa as aquisições pretendidas pela empresa e ampliação de sua capacidade industrial. Também estão nos planos a expansão das soluções de software e hardware e canais de varejo.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Intelbras
Cotação histórica de INTB3 desde o IPO
10. Bemobi Mobile (BMOB3)
Outra empresa com recente IPO em 2021. Esta é uma companhia que opera como um clube de aplicativos para celulares e possui cerca de 34 milhões de assinantes em vários países. O preço inicial das ações foi a R$ 22 reais e movimentou cerca de R$ 1 bilhão.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Bemobi
11. Mosaico (MOSI3)
Fechando a turma dos IPOs recentes, temos a Mosaico, a dona de sites de comparação de preços como Zoom, Buscapé e Bondfaro. Em seu lançamento de ações, captou cerca de R$ 1,2 bilhão. Os recursos do IPO serão usados para quitar o financiamento com o BTG e para a ampliar sua presença no comércio eletrônico.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Mosaico
Cotações recentes da MOSI3 desde o IPO
12. Dotz (DOTZ3)
A Dotz foi uma das empresas que também realizou seu IPO em 2021 no grande ano de abertura de capital para as techs. A companhia é especializada em programas de pontuação e possui quase 50 milhões de clientes no seu programa.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Dotz
Cotações recentes da DOTZ3 desde o IPO
13. Multilaser (MLAS3)
A conhecida marca Multilaser, que possui vários produtos de informática, hardware e acessórios também abril capital na bolsa recentemente. Com mais de 30 anos no mercado, é uma das marcas top of mind no segmento de eletrônicos e suprimentos de informática no mercado brasileiro.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) da Multilaser
Cotações recentes da MLAS3 desde o IPO
14. GetNinjas (NINJ3)
O GetNinjas é um aplicativos para contratação de serviços, sendo o maior da América Latina. Por meio dos seus app é possível encontrar mais de 500 tipos de serviços e mais de 2 milhões de profissionais cadastrados.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) do GetNinjas
15. TradersClub (TRAD3)
O TradersClub é uma comunidade de investidores com mais de 470 mil membros cadastrados. Eles oferecem inteligência de mercado e possibilidade de nwtworking entre os investidores. Além disso, vende análise de dados do cenário macroeconômico e das empresas listadas.
➡️ Site de Relações com Investidores (RI) do TradersClub
Como analisar ações do setor de tecnologia?
Ao analisar as ações do setor de tecnologia, devemos ter ciência de que muitas delas ainda buscam crescimento e consolidação no mercado. Por isso, as curvas de lucros podem apresentar oscilações, uma vez que estão reinvestindo na própria expansão.
Nesse caso, o investidor deve observar a geração de receita da empresa, controle da sua dívida, geração de caixa, fatores de governança e potencial de crescimento no setor.
Subsequentemente, busque nos sites de análise fundamentalista e nas informações de RI da empresa (balanços, comunicados e fatos relevantes) quais são os objetivos da companhia para o curto e longo prazo e veja se está condizente com a sua realidade ou condições.
Da mesma forma, avalie com rigor também se as tecnologias dessas empresas não podem se tornar obsoletas ou serem substituídas por outras companhias em um futuro próximo. Vale a pena conversar com pessoas da área para entender melhor isso. É um mercado que muda muito rápido e as empresas devem se ajustar, mesmo as mais jovens.
Por fim, analise a concorrência internacional e as legislações que regem essas companhias, uma vez que as regulamentações podem restringir seu desempenho e oferta de produtos e/ou serviços.