A grande verdade é que na maioria esmagadora das vezes é quase impossível responder essa pergunta rapidamente.
A precificação de uma ação e a análise da oportunidade de compra é bem diferente de como isso é feito com outros bens.
Por exemplo: caso você queira comprar um novo smartphone. Você define as configurações de tela, memória, câmera e outros fatores e então vai nas diferentes lojas e avalia os preços. Pode comparar modelos de marcas diferentes e com configurações parecidas, ou mesmo, conferir a média de preço em sites da internet.
Se você viu que um celular muito parecido custa R$1000 em uma loja, e em outra custa R$900, a avaliação de qual te o melhor preço é bastante simples. Ou mesmo, se você avaliar que até o mês passado esse mesmo celular custava R$1200, e hoje está mais barato, também te indica que é uma boa oportunidade. Porém, quando falamos de ações na bolsa as coisas não funcionam assim.
O histórico de preço de uma ação é um indicador pouco confiável quando visto de maneira isolada, o fato de uma ação já ter tido um preço alto no passado, não significa que esse preço irá se repetir e por isso é importante que você faça uma análise mais aprofundada da empresa que deseja investir.
E como são muitas empresas que compõem a IBOVESPA, é necessário ter sua própria tática de análise da melhor ação a se comprar.
Os principais tipos de análise de ações
Existem dois tipos básicos de análises que podem ser feitas em uma ativo: a análise fundamentalista e a análise técnica.
A análise técnica é muito utilizada por traders, e se baseiam no valor de uma ação no momento, eles avaliam aspectos técnicos e gráfico, bem como os volumes de negociação no mercado, para determinar quando comprar e vender, por meio de análise probabilística. Ou seja, não é uma certeza e sim um chance de que um ativo vai se comportar de determinada maneira no futuro a partir de cálculos feitos sob o gráfico.
Os analistas técnicos, também conhecidos por grafistas, confiam que o preço da ação, já está considerando todos os fatores possíveis.
Por outro lado, temos a análise fundamentalista, usada por grandes investidores como Warren Buffett e Luiz Barsi, e que também é a análise que iremos abordar neste artigo.
Nesse tipo de análise os fatores avaliados vão muito além do preço e o volume negociado, uma análise fundamental engloba o estudo dos resultados financeiros, situação macroeconômica, gestão, governança corporativa e mais uma série de fatores que indicam a solidez que uma empresa possui. É o tipo de análise focada na construção de valor, e na estratégia de longo prazo, usada pelos gestores mais bem-sucedidos da história.
Análise Fundamentalista
Podemos dividir os grandes pontos abordados em uma análise fundamentalista em:
Análise macroeconômica
Nesse aspecto é avaliada a conjuntura econômica, perspectivas e cenários futuros para os diversos setores da economia. O objetivo aqui é analisar quais os cenários mais prováveis para aquele mercado em particular caminhar nos próximos anos com base no que sabemos hoje.
Análise qualitativa
Aqui avaliamos o histórico de resultados da empresa, a sua governança corporativa, ou seja, se seu time de gestores é bem qualificado e tem tomado boas decisões, o setor de atuação e outros aspectos.
Análise quantitativa
Esse é o momento de se avaliar o resultado financeiro da empresa: margens operacionais, rentabilidade e endividamento são alguns dos fatores avaliados. Considerando investimentos para o longo prazo, devemos considerar:
Valuation
Por fim, o valuation é análise da relação entre preço e valor de negociação de uma empresa, e o quão atrativa essa relação é para um investidor. Existe muita subjetividade em uma análise e no processo de valuation.
É possível que mesmo grandes analistas cheguem em conclusões diferentes sobre o mesmo papel
Demonstrações financeiras
O início de uma análise fundamentalista se dá através do estudo das suas demonstrações financeiras, conhecidas como: Balanço patrimonial; DRE: demonstração de resultado do exercício. Para empresas listadas na bolsa, esses documentos são disponibilizados de maneira pública.
Múltiplos e indicadores
Existem diversos múltiplos e indicadores que podem te ajudar a comparar empresas do mesmo setor, e assim te ajudar a tomar a melhor decisão de compra.
Lucros constantes
Para início de conversa, empresa boa é empresa lucrativa. O investidor deve avaliar a consistência no lucro líquido do negócio. Nos últimos 5 anos, quantos anos foram fechados no positivo? E nos últimos 10? Se a empresa tem uma curva de lucros constante, é um bom indicador. Fique alerta também se o lucro é muito baixo ou não cresce, o que pode ser sinal de que a empresa não consegue mais se reinventar para as mudanças de mercado.
Governança
Entre no site da B3 e entenda em qual segmento de listagem de governança a empresa está listada. O mais alto deles (novo mercado) é um ótimo indicador de governança.
Ações ON x Ações PN e Units
dê preferência às empresas do Novo Mercado, o segmento de listagem de governança que permite apenas ações ON (código de negociação terminado em 3). Empresas que negociam ações PN (final 4) sem tag along ou ações unit (final 11) são de governança pior e colocam o investidor em um nível de risco mais elevado. Ser portador de ações ON significa ter os mesmos papéis do acionista majoritário e segurança em caso de troca de controle na companhia. Empresas que negociam PN sem tag along e units normalmente querem financiadores e não sócios.
Free float
Avalie qual porcentagem das ações de uma companhia estão sendo negociadas no mercado (free float). Acima de 25% é um bom indicador de governança e menor concentração de controle de uma companhia.
Dívida controlada
Além de lucrativa, os passivos da empresa devem estar sob controle. Compare o tamanho da dívida em relação às receitas que ela gera, o seu desempenho operacional (EBITDA) e sua posição de caixa. Tudo bem uma empresa ter dívida, mas sua capacidade de quitar esses compromissos deve ser mantida ao longo do tempo. Vale a pena ler os balanços para compreender se as dívidas estão concentradas no curto ou no longo prazo.
Posição de caixa
Um caixa forte e positivo permite a um negócio ter controle do seu endividamento, girar o operacional com tranquilidade e pensar em expansões. Avalie se o caixa da empresa está crescendo. Você pode acompanhar principalmente nos balanços divulgados e em sites especiais com indicadores como FCO, FCL, FCL Capex e FCF.
Margens
Avalie a margem bruta e, principalmente, a margem líquida do negócio. Ou seja, quanto sobra de lucro após a empresa pagar todas as obrigações. Após isso, compare com empresas do mesmo setor e veja quais term as melhores margens.
Crescimento do patrimônio líquido
O patrimônio líquido é a diferença entre os ativos e passivos de um negócio. Um patrimônio líquido positivo e crescente é um sinal de crescimento do negócio.
Distribuição de dividendos e payout
Avalie qual porcentagem dos lucros está sendo distribuída aos acionistas (payout) e qual é o dividend yield (% em relação ao preço da ação). Esse indicador permite entender se a empresa está retendo parte dos lucros para reinvestir no próprio crescimento e como remunera os sócios.
Remuneração dos executivos
Saber se a empresa mantém altos valores pagos aos executivos também é um aspecto de governança. Afinal, o negócio de capital aberto deve gerar valor para todos os acionistas. No site Fundamentei, é possível avaliar qual porcentagem dos lucros é destinada à remuneração dos principais diretores.
Participação do governo
Empresas que têm participação do governo tendem a ser mais arriscadas. Ser sócio de uma companhia detida pelo governo ou que o poder público tem participação considerável requer a ciência de que a política vai interferir diretamente no desempenho do negócio.
P/L
Preço da ação/lucro por ação. Esse múltiplo é o mais utilizado para comparação entre empresas, pois, representa em quantos anos o acionista terá o retorno do seu investimento. Exemplo: quando afirmamos que uma companhia tem P/L de 5x, isso significa que o preço que você vai pagar por aquela ação será recuperado em 5 anos de lucro da companhia.
EV/Ebitda
Valor total da empresa incluindo o valor de mercado das ações mais suas dívidas (enterprise value) / Ebitda (Resultado operacional da companhia mais depreciação e amortização).
Esse múltiplo pode ser mais utilizado que o P/L em alguns casos porque ele adiciona à equação a dívida da companhia.
Muitas vezes uma empresa pode parecer mais barata que a outra pelo múltiplo do P/L simplesmente porque é mais endividada. Nesse caso a análise do EV/Ebitda impedirá que o investidor tome a decisão errada.
ROE
Retorno sobre Patrimônio Líquido (em português). Esse múltiplo revela qual é o retorno que os sócios da empresa estão tendo em relação ao dinheiro que eles investiram na companhia (seja com capital próprio, seja com empréstimos utilizados para levar adiante esses investimentos).
P/VPA
Preço da ação / valor patrimonial da ação (em português). Benjamin Graham gostava muito de usar esse indicador para encontrar ações baratas na Bolsa.
É importante ressaltar que os múltiplos ajudam na tomada de decisão, mas não devem ser usados de forma isolada, mas sim como complementos a uma análise aprofundada da empresa.
Outros Fatores Importantes
Além disso, um analista mais zeloso e experiente, irá analisar fatores como o dividend yield, índices de endividamento e rentabilidade, sempre buscando complementar ao máximo as informações que possui, antes de tomar uma decisão de compra ou venda.
Comportamentos que todo investidor precisa ter
São muitos aspectos a serem avaliados em um investimento, mas existem tópicos que todos analisam em ações e não devem passar despercebidas.
- Não seguir a manada sem fazer sua própria análise;
- Analises de fluxos de caixa e demonstrativos financeiros;
- Entender das competições do setores;
- Ficar por dentro dos potenciais entrantes em um setor;
- Ver e perceber o poder de barganhas com fornecedores e clientes;
Dicas extras para quem está começando
A análise gráfica é fundamental para quem deseja entrar na Bolsa de Valores. No entanto, você precisa tomar alguns outros cuidados para gerenciar seu risco e ter rentabilidade. Confira nossas dicas:
Continue estudando
A análise técnica é uma das estratégias mais básicas do mercado de renda variável. Os traders profissionais combinam muitas outras estratégias e indicadores para realizar as suas operações.
Por isso, mesmo lendo os gráficos com cuidado, você deve continuar buscando conhecimento.
Não existe lucro certo
O investimento em renda variável oscila. Isso é natural. Assim, mesmo que uma aplicação tenha dado lucro por anos a fio, é perfeitamente possível que ela tenha um ano ruim.
Por isso, grave essa frase: rentabilidade passada não significa rentabilidade futura.
O mercado é imprevisível e você deve estar preparado para volatilidade.
Tenha uma carteira diversificada
A forma mais eficiente de se proteger no mercado de renda variável é ter uma carteira de investimentos de naturezas diferentes.
Por exemplo, incluindo ações de empresas exportadoras, você terá um ativo que valorizará se o dólar subir. E o dólar normalmente sobe quando acontece alguma volatilidade no mercado, que usualmente afeta mais as grandes blue chips como Petrobras, Vale e etc.
O processo de avaliação de uma ação, para determinar se ela é ou não uma compra interessante, é bastante complexo, envolvendo muitas variáveis e indicadores que demandam experiência prática e teórica para serem devidamente analisados. Além do aspecto pessoal de interesse e entendimento do funcionamento do negócio.
Espero que este conteúdo te ajude a refletir nas variáveis para que você possa tomar sua própria decisão.
Quer um exemplo de análise fundamentalista? Confira o artigo que preparamos com a análise das demonstrações contábeis da Weg, uma das queridinhas do mercado!