consumo cíclico e consumo não cíclico

Aprenda as diferenças entre consumo cíclico e não-cíclico para investir na bolsa

Um conceito econômico que deve estar sempre presente na consciência não só de investidores, mas de qualquer pessoa é que a economia como a conhecemos hoje é cíclica. Quer dizer, possui ciclos de expansão e contração. O consumo, por sua vez, acompanha esses ciclos, formando o que vamos compreender como consumo cíclico e não-cíclico.

Os agentes econômicos (famílias, empresas, governos etc) tem participação ativa no modo como a macro e a microeconomia são fundamentadas e que também estão sujeitos a crises e tempos de bonança.

O capitalismo está longe de ser uma máquina perfeita, pois ainda há pobreza, fome, desigualdade de renda, crimes financeiros, mas é o melhor sistema econômico que a humanidade encontrou para gerar prosperidade e distribuição de recursos escassos. Crises não duram para sempre, tampouco os anos de crescimento.

Entender como as pessoas consomem e como as empresas ofertam esses recursos escassos é algo que intimamente perpassa o conhecimento sobre em que momento econômico da nossa época.

Na vida do investidor, ao optar por estudar e se tornar sócio de uma empresa, é necessário estudar como os ciclos de expansão e recessão econômica afetam o quanto essa empresa vende e, naturalmente lucra.

No artigo de hoje, vamos entender o que são consumo cíclico e não-cíclico, conhecer alguns exemplos de empresas que assim podem ser categorizadas e o que analisar quando comprar ações dessas companhias.

O que é consumo cíclico?

Por consumo cíclico queremos dizer que há setores e empresas que são fortemente afetadas por variáveis econômicas como inflação, taxa de juros, variação do câmbio, crises financeiras, aquecimento da atividade econômica etc.

Ou seja, as vendas de um setor serão fortemente afetadas por esses fatores econômicos. Os custos para o consumidor podem ficar mais caros ou mais baratos de acordo com o momento da economia.

O exemplo top of mind desse tipo de consumo é o mercado de passagens aéreas. As pessoas viajam mais ou menos de avião de acordo com a saúde econômica do país, pois o operacional das companhias como Gol, Latam, Azul e outras depende de quanto as pessoas podem gastar com isso, casando oferta e demanda.

O setor aéreo e o de turismo estão diretamente ligados a taxa de desemprego, variação cambial, índices de atividade econômica, taxas de inflação e outros fatores. Tudo isso vai influenciar diretamente o preço de uma passagem de avião e no interesse das pessoas em viajar mais ou menos durante o ano.

Outros setores que também são afetados pelos ciclos da economia são aqueles diretamente ligados ao consumo das famílias (varejistas, vestuário, calçados, construção civil etc). Se as pessoas têm receios quanto ao desempenho da economia no futuro ou ter sua renda comprometida, elas vão consumir menos e poupar mais.

Por outro lado, na pandemia do novo coronavírus, pudemos perceber empresas ligadas a supermercados e e-commerce (Carrefour, Pão de Açúcar, Magazine Luiza, etc) registrarem avanços nas suas vendas, impulsionadas pelo auxílio emergencial, saques do FGTS e redirecionamento dos gastos das famílias que reduziram as compras em outros setores, como o turismo.

Empresas ligadas a commodities também têm seus próprios ciclos de mercado. Por exemplo, a Vale depende dos ciclos do minério de ferro, Suzano depende dos ciclos da celulose, Petrobras depende dos ciclos do petróleo, etc.

Exemplos de ações de consumo cíclico listadas na B3

Naturalmente, na bolsa de valores, temos empresas de vários setores listadas. Já falamos que o primeiro fator ao montar uma carteira de ações vencedora e minimizar seu risco é a diversificação. Para o investidor, atingir uma boa variedade de empresas no seu portfólio inclui também ter ações de empresas cíclicas.

Vamos conhecer algumas das empresas de setores cíclicos listadas na B3:

Aéreas e turismo:

  • Gol (GOLL4)
  • Azul (AZUL4)
  • CVC (CVCB3)

Varejistas, supermercados e construção civil:

  • Magazine Luiza (MGLU3)
  • Via Varejo (VVAR3)
  • Lojas Renner (LREN3)
  • Hering (HGXT3)
  • Pão de Açúcar (PCAR3)
  • Carrefour (CRFB3)
  • MRV (MRVE3)
  • Direcional Engenharia (DIRR3)

Ligadas a commodities:

  • Vale (VALE3)
  • Petrobras (PETR3)
  • MDias Branco (MDIA3)
  • Suzano (SUZB3)
  • Klabin (KLBN11)

Como analisar empresas de consumo cíclico para investir?

Partindo para a análise de ações de consumo cíclico, devemos estudar os balanços anuais e só os trimestrais. Em outras palavras, há trimestres em que a companhia pode vender mais e outros em que ela vai vender menos. Mas, numa análise mais ampla, olhando para o fechamento do ano e comparando vários anos consecutivos, teremos uma noção mais plena do crescimento da empresa ao longo do tempo.

Além disso, deve-se observar:

  • crecimento das vendas (receita líquida) nos últimos 5 ou 10 anos.
  • o quanto a empresa vendeu nos anos de recessão econômica e comparar com concorrentes;
  • sua capacidade de geração de caixa;
  • gestão do fluxo de caixa;
  • receita e dívida geradas em moeda estrangeira;
  • índices setoriais (vendas do varejo, dados do turismo, vendas de casas novas, por exemplo);
  • aquecimento do mercado, ou seja, se esse produto tem potencial de se manter atrativo;
  • índices de liquidez da empresa.

Resumidamente, além dos dados da análise fundamentalista da empresa, devemos analisar também os dados que afetam o seu mercado e o quão predispostos a comprar estão seus consumidores.

O que é consumo não-cíclico?

Por outro lado, por consumo não-cíclico entendemos as empresas que são menos afetadas por ciclos de alta e baixa na economia. Veja bem, não quer dizer que elas não serão afetadas, pois também são agentes econômicos, mas serão impactadas em menor escala.

Os principais exemplos lembrados são os de companhias do setor de energia, saneamento e farmacêuticas. No setores ligados ao estado, como água e energia, os contratos com o Estado e as concessões normalmente são longos e o consumo desses recursos tendem a ser perenes.

Ao olharmos o fluxo de caixa do setor (o que entra e o que sai), percebemos que a previsibilidade é muito mais alta do que no consumo cíclico. Isto quer dizer que uma empresa de energia elétrica tem muito mais a noção de qual será a sua receita do que um supermercado.

Tais setores são mais resilientes e suas vendas têm menos volatilidade. Sua demanda tende a ser constante e menos elástica do que empresas do consumo cíclico.

Empresas de alimentos e bebidas também podem ser classificadas como de consumo não-cíclico, pois não paramos de comer, independente do ciclo da economia. O que você faz é fazer ajustes no seu consumo, preferindo outras marcas, por exemplo, mas não deixa de consumir. Como dissemos, não quer dizer que elas não serão afetadas, mas suas vendas sofrerão menos golpes nos momentos de baixa

Exemplos de ações de consumo não-cíclico listadas na B3

Vamos ver abaixo alguns exemplos de companhias que se encaixam no consumo não cíclico:

Elétricas:

  • Engie (EGIE3)
  • Energias do Brasil (ENBR3)
  • Neo Energia (NEOE3)
  • Cemig (CMIG4)

Alimentos e bebidas:

  • Ambev (ABEV3)
  • BR Foods (BRFS3)
  • Marfrig (MRFG3)
  • Camil (CAML3)

Agrícolas:

  • Terra Santa Agro (TESA3)
  • São Martinho (SMTO3)
  • SLC Agrícola (SLCE3)
  • Brasil Agro (AGRO3)

Como analisar empresas de consumo não-cíclico para investir?

O estudo de empresas do setor não-cíclico deve passar mais pela eficiência e constância dos lucros, bem como pela capacidade de expansão. Uma vez que a receita não é muito afetada, vamos observar o seu potencial e execução de projetos de expansão e a administração da sua dívida. Em resumo, ao se deparar com empresas dessa categoria, analise:

  • proporção da dívida em relação às disponibilidades;
  • proporção da dívida frente ao resultado operacional;
  • composição da dívida (curto e longo prazo);
  • custos na prestação do serviço;
  • datas de concessão (no caso de elétricas, por exemplo);
  • indicadores de rentabilidade;
  • indicadores de crescimento;
  • distribuição de dividendos e payout;
  • crescimento dos lucros e patrimônio líquido.

Enfim, avalie com um olhar de mais longo prazo ainda, pois essas empresas tem a obrigação de serem eficientes por décadas para serem consideradas boas. Não se assuste com os dados de dívidas altas desse setor, pois há um elevado número de investimentos ou em expansão, ou em ativos imobilizados. O importante é avaliar como essa dívida é administrada e com qual objetivo ela é construída.

Chegamos ao final de mais um artigo sobre investimentos! Espero que esteja mais claro o que são consumo cíclico e não-cíclico. Pronto para o próximo passo? Quer saber como analisar uma ação, independente de qual setor for? Então leia o este artigo!

Investidor buy & holder, co-fundador do Diário de Investimentos, jornalista (17.248/MG), fotojornalista, escritor, graduando em ciências econômicas, estrategista de conteúdo na área de Marketing Digital e especialista em gestão estratégica da comunicação e comunicação digital e mídias sociais.
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