Os índices de liquidez são termômetros que têm o objetivo de avaliar a capacidade de pagamento de uma empresa frente às suas obrigações. É natural que uma empresa assuma dívidas, tanto de curto quanto de longo prazo. Não há nada de errado nisso.
No entanto, é importante avaliar se a companhia conseguirá honrar os compromissos com seus credores externos, sobretudo as dívidas de curto prazo (com vencimento até um ano, observadas no passivo circulante).
Com a análise dos índices de liquidez, por meio de continhas simples com dados extraídos do balanço patrimonial, podemos inferir o quão confortável está a posição da empresa frente às suas dívidas. Algumas empresas terão mais ou menos dívidas, mais ou menos disponibilidades e isso influenciará diretamente suas decisões no cotidiano da administração financeira.
No artigo de hoje, vamos apresentar os principais índices de liquidez de uma empresa e o que eles significam na análise de uma ação.
Este é o segundo artigo de uma série de três posts sobre indicadores fundamentais na gestão financeira e contábil de uma empresa. No primeiro, falamos sobre a estrutura de capital. No próximo, fecharemos com os indicadores de rentabilidade.
O que são liquidez e solvência?
Liquidez é um dos termos que mais se repete no jargão econômico e no vocabulário de investimentos. Liquidez de uma empresa, na prática, significa a sua capacidade de pagar as obrigações devidas.
Tais dívidas são pagas normalmente com recursos do ativo circulante (caixa, equivalentes de caixa etc). Podemos dizer ainda que uma empresa está solvente quando tem a capacidade de honrar suas dívidas e está insolvente quando não.
Por isso, o uso do termo liquidez, pois é o uso dos recursos mais “líquidos” – mais próximos de conversão em dinheiro – que a empresa dispõe na quitação de suas obrigações.
Todos os ativos podem ter mais ou menos liquidez. O grau de liquidez do ativo é determinado pelo quão fácil é a conversão do ativo em dinheiro. Títulos de longo prazo são menos líquidos do que equivalentes de caixa, por exemplo.
A importância dos índices de liquidez para o mercado
Na análise fundamentalista de ações, a análise dos índices de liquidez, quando associados à interpretação da estrutura de capital e dos indicadores de rentabilidade do negócio, dão noções bastante realistas sobre a atual situação de solvência de uma empresa.
O mercado, por sua vez, analisa as posições de liquidez de uma empresa ao longo dos trimestres e traça o perfil da sua administração. Com isso, é possível observar se os diretores respeitam as posições de liquidez da empresa, se a ignoram, se a mantém sob rígido controle etc. Logo, trata-se de um dos muitos termômetros usados para determinar o quão eficiente é a gestão financeira e de caixa do negócio.
Empresas com pouca liquidez recorrem mais a empréstimos para pagar suas dívidas de curto prazo, aumentando suas obrigações do futuro. Quando não administradas corretamente, pode virar uma bola de neve sem fim, pois a dívida de longo prazo vai se tornar uma de curto prazo, eventualmente.
Por isso, os gestores acompanham quatro índices de liquidez fundamentais. São eles:
Liquidez imediata
A liquidez imediata calculada pela fórmula: disponibilidades ÷ passivo circulante. Por meio desse indicador, percebemos qual é o nível das disponibilidades da empresa frente o seu passivo circulante. Lembrando mais uma vez, circulante é tudo que vence nos 12 meses seguintes à publicação do balanço. Ou seja, dívidas de curto prazo.
As disponibilidades referem-se aos valores que a empresa detém em seu caixa livre e seus equivalentes de caixa. Então, qual é o tamanho do caixa e equivalentes da empresa perante às dívidas de curto prazo? Se fosse preciso quitá-las hoje, a empresa teria caixa disponível?
Se a liquidez imediata estiver muito baixa, a companhia acaba tendo que recorrer a empréstimos para aumentar a solvência e fazer a quitação de dívidas.
Liquidez corrente
A liquidez corrente é calculada pela fórmula: ativo circulante ÷ passivo circulante. Esse índice nos mostra a relação proporcional entre ativo circulante e passivo circulante.
O termo corrente nos remete mais uma vez ao curto prazo. Ao compararmos todos os bens e direitos – ativos – com as dívidas e obrigações – passivos -, qual é a situação atual da companhia?
Dessa divisão, resultados superiores a 1 (hum) significa que a empresa está em uma ótima posição de liquidez, pois seus ativos de curto prazo são maiores que as dívidas de curto prazo. Empresas que geram muito caixa tendem a estar nesta condição de liquidez.
Liquidez seca
A liquidez seca é calculada pela fórmula: (ativo circulante – estoques) ÷ passivo circulante. Esse índice de liquidez é bem semelhante ao anterior, com a diferença que ele subtrai os estoques do numerador.
A análise da liquidez seca é utilizada por instituições financeiras que cedem crédito para empresas. Como os estoques, em teoria, não servem para quitar uma dívida de empréstimo, a organização que está fornecendo o empréstimo avalia a posição dos demais itens do ativo circulante em relação ao passivo circulante, avaliando assim, se a empresa terá dificuldade de liquidez no ano contábil que se segue.
Mantendo esse indicador acima de 1 (hum) por muito tempo, a companhia consegue boa reputação com bancos e outros serviços financeiros no momento de solicitar empréstimos e financiamentos.
Liquidez geral
A liquidez geral é calculada pela fórmula: (Ativo circulante + realizável a longo prazo) ÷ (Passivo circulante + exigível a longo prazo). Como o próprio nome diz, aqui, se avalia posição geral de liquidez da empresa. Ou seja, somando curto e longo prazos.
Associando aos indicadores anteriores, podemos inferir se a capacidade de pagamento está no curto ou no longo prazo. Por isso, a análise da estrutura de capital ajudará bastante neste momento. Se a maior parte das dívidas da empresa estiver no passivo não-circulante (longo prazo), ela tem uma folga um pouco maior para conseguir recursos para esses compromissos.
Os índices de liquidez na vida do investidor
Como mencionamos em outros artigos, nenhum indicador deve ser analisado isoladamente como único fator para a escolha de uma ação. Os índices de liquidez são uma ótima ferramenta complementar na análise de empresas e auxiliam o sócio e o mercado a entender como está a capacidade de pagamento de um negócio e sua saúde financeira.
São cálculos extremamente simples com dados que você facilmente encontra em todos os balanços patrimoniais divulgados pela empresa todos os trimestres.
Ao estudá-los, os índices de liquidez são avaliados em níveis de proporção. Ou seja:
- índice de liquidez maior do que 1: a empresa está confortável em sua capacidade de pagamento;
- índice de liquidez igual a 1: o que a empresa tem disponível está empatado com o que ela deve pagar;
- índice de liquidez menor do que 1: o valor das dívidas são maiores que sua capacidade de pagamento.
O sócio deve estar ciente dos índices de liquidez para identificar se a empresa terá mais ou menos predisposição a tomar empréstimos para pagar suas dívidas ou se consegue gerar caixa para se manter solvente frente suas obrigações.
É importantíssimo lembrar também que a distribuição de dividendos é feita com recursos que saem do caixa da empresa. Então, quando ela paga aos sócios a parcela do lucro, reduz sua liquidez. O acionista deve observar se a empresa não está “queimando o caixa” para pagar os dividendos além da conta com recursos destinados às obrigações de curto prazo.
Quer ver um exemplo do cálculo dos índices de liquidez na prática? Confira o artigo completíssimo que publicamos sobre as demonstrações financeiras da Weg.